25/02/2010

CANÇÃO PRA DORMIR E SONHAR

[Eriem Ferrara]

Em uma de minhas “adoráveis” noites de insônia, já se fazia alta as horas e eu rabiscava uns versinhos enquanto o sono não vinha - não sei por onde ele andava, mas eu o aguardava ansiosamente. Tudo estava muito quieto e silencioso - o que não poderia ser diferente, considerando o avançado das horas (3h14m). De repente, assim, do nada, comecei a ouvir o som de uma música linda e suave, com um pouco mais de atenção percebi que o som vinha de uma flauta e a melodia tocada era “Coração de Estudante” (Milton Nascimento), num primeiro momento fiquei ainda mais desperta tentando imaginar de onde vinha àquela canção e quem poderia estar “flauteando” tão tarde da noite? Logo idealizei a figura de uma mulher. Só poderia ser, já ouvi dizer que as mulheres têm mais problemas em relação à falta de sono do que os homens – quem sabe seja por conta das preocupações do dia-a-dia mais predominante nas mulheres que nos homens, rsrsrs... Bom, verdade ou não, continuei pensando que poderia ser uma mulher até a música terminar e iniciar - a mesma canção (???). Nesse momento percebi que o sono chegava de mansinho e meus últimos pensamentos foram – talvez quem estivesse tocando procurasse maior excelência nos acordes da melodia, mas estava tão linda zzzzzzz... não resisti, entreguei-me completamente a plenitude do sono. O celular toca insistente para eu acordar - não acredito que já amanheceu, tenho a impressão que nem dormir. Mas, para meu espanto percebi que eu estava bem disposta e descansada. Num passe de mágica refiz minha cama, tomei banho e coloquei água no fogo para fazer o café enquanto me “enfeitava” para o trabalho. Lembrei-me da música e também de um lindo sonho, onde apenas meu espírito caminhava lentamente por uma imensa floresta de pinheiros, eu tinha um objetivo específico naquela caminhada, mas não me lembro qual era – que pena, gostaria de saber onde e porque “eu” estava ali. O dia passou rápido e tranqüilo. Concluí todas as minhas atividades previamente programadas e adiantei outras para o dia seguinte. De volta pra casa já no finalzinho da tarde, questionei meus familiares se tinham ouvido o som de flauta na madrugada, ninguém ouviu absolutamente nada. Por volta de 20:30hs fui até o portão atender o entregador de pizza, enquanto conversava com o rapaz, minha nova vizinha que se mudara a apenas três dias se aproximou, trazendo consigo o filho que mais tarde soube tinha apenas 14 anos. Convidei-os a entrar e dei-lhes as boas vindas a minha casa e também ao bairro. A visita foi breve, após algumas trocas de gentilezas ela disse a que veio, explicou que seu filho era altista e que trocava a noite pelo dia, isto é, dormia durante o dia e passava a noite acordado. Antes perambulava pela casa a noite toda, mas depois de ser presenteado com uma flauta, rapidinho aprendeu a tocar, agora passa as noites envolvido nessa atividade. Enfim, minha vizinha queria saber se a música estaria nos incomodando, caso estivesse ela iria providenciar a troca das janelas de sua casa para abafar o som produzido pela flauta. Todos de casa concordamos que o som não era nenhum incomodo, muito pelo contrário, contei a ela meu problema de insônia e a sensação de paz que senti ao ouvir a música. Percebi de imediato alívio em seu rosto. Nós despedimos, cada uma com a certeza de que nos tornaríamos grandes amigas com o passar do tempo - Dito e feito, adoramos nossos vizinhos.
CHOCANTE
[Eriem Ferrara]
A tardezinha de um domingo tranquilo, eu regava o pequeno jardim a frente da minha casa. Naquele momento, eu pensava em um tema para compor uma poesia, quando, de repente, começou certa confusão e gritaria na rua, me aproximei do portão e deparei-me com uma cena chocante. Dois cães enormes da raça dobermann atacavam um homem e uma mulher que ensangüentados gritavam por socorro. Fiquei petrificada, sem conseguir me mexer, tamanho foi o susto e pavor em presenciar tal cena. Alguns carros que passavam pela rua paravam e de seu interior ouvia-se mais gritos para que os cães deixassem suas “presas”. Ninguém se atrevia a descer dos carros, o que era bastante compreensível. Outros motoristas buzinavam com intuito de assustar os animais, mas esses não se intimidavam e continuavam a atacar sem piedade. Minha irmã que até então estava dentro de casa, ao perceber toda aquela movimentação, também se aproximou e logo começou a gritar “Rayca”, “Bethovem” vão embora e nada. Então, ela apanhou a mangueira com a qual eu regava o jardim e a direcionou aos cachorros, literalmente dando-lhes um banho. Para alivio de todos, principalmente do casal estirados no chão, os bichos saíram correndo em direção ao seu dono que só então se deu conta do fato e da tragédia causada pelos seus “bichinhos de estimação” como ele mesmo costuma dizer. Voltando a atenção aos feridos, vimos que várias pessoas se aproximam movidos pela curiosidade e dois dos motoristas dos carros que pararam, desceram para prestar socorro às vítimas. Minha irmã percebendo que eu ainda estava em choque “levou-me” para dentro de casa, em seguida, voltou para ajudar as pessoas envolvidas no incidente. Mais tarde, soubemos que o casal era evangélicos e estavam a caminho da Igreja / Salão / Templo / Célula (não sei como me referir ao local onde eles oram) e para “azar” desse casal, um dos filhos do dono dos cachorros saiu de casa e não acionou o controle para que o portão se fechasse, resultado... esse lamentável episódio que acabo de narrar. Sobre as vítimas, a moça levou “apenas” uma mordida, por sorte ela desmaiou e pela sua inércia o cão perdeu logo o interesse (é o que dizem), nisso passou a atacar o rapaz juntamente de sua companheira “Raica”. A moça foi medicada e em seguida liberada pelos médicos, já o rapaz, coitado, levou nove mordidas pelo corpo, sendo necessários alguns procedimentos cirúrgicos, mas o pobre sobreviveu. O dono dos animais arcou claro, com todas as despesas. Terá de pagar uma indenização para cada vítima e ainda ficou sem seus bichos, os quais foram apreendidos pela “Zoonose” por serem considerados altamente perigosos. Ah, por pouco eu peço uma indenização também, afinal o susto foi grande, fiquei mal de verdade – rsrsrs, brincadeirinha pessoal... Para minha irmã meus aplausos por sua atitude rápida e politicamente correta.
NATHY A NINFA DAS PLANÍCIES

[Eriem Ferrara]

Em um de seus passeios matinais, Nathy absolta em seus pensamentos sobrevoa as pradarias relvadas quando, repentinamente uma rajada de vento joga-a bruscamente ao chão. Pega de surpresa, a ninfa avalia seus ferimentos. Quebrara uma de suas asas, embora fosse isenta de dor precisaria reconstituí-la para manter o equilíbrio necessário e voltar a voar. Essa reconstituição só seria possível com o auxílio magnético de outras ninfas de Napéia, comunidade onde vivia, mas, para isso, ela deveria aguardar o seu resgate. Enquanto isso continuaria mesmo por terra, seu passeio de inspeção aos prados. Decidida pôs-se a caminhar, meio que desajeitada é verdade, ela sabia mesmo era voar. Mas Nathy, ninfa de rara beleza, silhueta esguia e graciosa, altivez no porte a impressionar qualquer mortal, logo se habituara a sua nova condição de “pedestre”. Olhar atento registra todas as mudanças ocorridas naquela região. Sua alma sensível e frágil condói-se pela devastação das planícies outrora verdejantes, agora apenas um grande chão de terras secas e sulcos profundos deixados pelos mananciais ressequidos de jazidas remanescentes – ah, quanta desilusão! Mais adiante, a vista algumas árvores de araucárias, onde, sentado a sombra de uma delas está um rapaz, com o olhar triste, perdido na imensidão daquele chão desnudo - curiosa a ninfa se aproxima e indaga a razão de sua tristeza, ao que ele responde com a voz embargada pela emoção. – Não faz muito tempo eu deixei a casa de meus pais para ir estudar no estrangeiro, ansiava regressar e matar a saudade do lugar onde nasci e fui criado, rever os campos floridos, a terra fértil e as nascentes dos rios, mas, qual minha surpresa, tudo está mudado, devastado e ressequido. Minha decepção é grande, pois, tencionava criar meus filhos aqui para que pudessem ser tão felizes quanto eu fora, gostaria que eles tivessem o mesmo amor por essas terras, o mesmo respeito pela natureza como meus pais me ensinara. Repassar a eles os valores de uma vida simples, no entanto, rica em sua diversidade. Percebendo que seu resgate se aproximava a ninfa pede o rapaz que feche os olhos por um instante, segredou algo para os amigos da sua comunidade, em seguida regressam a Napéia. O rapaz meio que sonolento, despertou-se de seu transe, ao erguer os olhos para o horizonte deparou-se com um imenso campo florido, onde fauna e flora pareciam em festa, numa profusão harmoniosa de cores e sons. Não compreendendo o que se passara, o rapaz atribuiu toda a sua angustia a um terrível pesadelo. Nathy que ainda recuperava a sua linda e espessa asa quebrada, de longe observava a alegria e os cuidados que o rapaz empregava para manter a natureza viva, pelo menos ali nas redondezas de sua casa. Quanto ao restante das planícies continua estéril, pela ação do homem que teima em despir o chão das planícies.
CENAS BANAIS

[Eriem Ferrara]

De dentro do carro, estacionado frente a uma farmácia, presenciei a seguinte situação. Dois rapazes em uma moto passam devagarzinho por uma moça e num gesto rápido o carona arranca-lhe a bolsa do ombro partindo em seguida acelerados. Logo à frente, o semáforo amarela em sinal de alerta, o motoqueiro olha para traz – penso que para calcular a distância que sua vítima se encontra, nesse meio tempo ele, o semáforo, entra no vermelho e o rapaz sem tempo e agilidade suficientes para não colidir com o veículo a frente joga a moto para a esquerda e “bummm” colide com outro motoqueiro que por sua vez colide com um Pálio... pronto a confusão está armada. Nesse meio tempo, numa corrida quase “maratonal” de curta distância a moça se aproxima na maior gritaria “pega ladrão”, as pessoas à volta sem saber do que se trata, ficam só olhando, o carona se desvencilha rápido, aproveita a confusão toda e corre já o motoqueiro não tem a mesma sorte, pois sua moto “enrosca” com a outra moto não lhe dando tempo para fugir. Conclusão, a moça recupera sua bolsa e aproveita a fragilidade da situação para “espanar” com vontade a cara do cara. A polícia chega e logo depois eu vou embora feliz com o desfecho do caso rsrs...
EMPATIA ENTRE BICHOS

[Eriem Ferrara]
Diz o velho ditado “dois bicudos não se beijam” - Mas o que esse dito popular quer dizer exatamente?
Tratando-se de seres humanos entendo que duas pessoas sem a menor afinidade, com crenças e ideais diferentes quando dividem um mesmo espaço vive em constante “pé de guerra”, ou seja, não combinam, discutem por qualquer banalidade. Mas, em se tratando de bichos, como seria isso?
Vejam esta história.
Temos em casa uma cadelinha da raça pinscher (n° 1) seu nome é Baby, ela nem é tão bonitinha assim, mas é de uma sensibilidade fora do comum. Imaginem que todos os dias vários pardais voam até a área de nossa casa para compartilhar da comida da Baby e, ela temperamental como é, vira uma “fera”, late, corre e põe pra voar todos eles. Mas, um pardal em especial age diferente dos demais, ele vem com o bando, pousa na grade da área e observa todo aquele alvoroço, depois que todos vão embora a Baby e o Tico (nome que carinhosamente dei ao pardal, coitado nem sei se o bichinho é macho ou fêmea), bom como eu dizia, ambos ficam alguns instantes se observando, parece até que eles se colocam em posição humilde (empática) enquanto se contemplam, o Tico pende a cabecinha para um lado e encara sua “anfitriã” como a lhe dizer:
- Você agiu muito bem, meus coleguinhas são gulosos e mal educados... mas, eu posso dar uma bicadinha em sua comida?
A Baby como que aprovando o seu comentário e também seu pedido, deita-se e finge dormir, então o pardal voa até o prato de comida, dá umas boas bicadelas, as vezes até bebe um pouco de água, deixa uma sujeirinha aqui, outra ali e depois vai embora.
O engraçado é que depois que o Tico voa, a Baby parece despertar de seu transe, então começa a latir e correr em volta da área, aparentando uma fúria incontrolável. Mas a impressão que fica, é que sua atitude é puro teatro e que no fundo ela tem uma enorme simpatia pelo pardalzinho.