[Eriem Ferrara]
Em uma de minhas “adoráveis” noites de insônia, já se fazia alta as horas e eu rabiscava uns versinhos enquanto o sono não vinha - não sei por onde ele andava, mas eu o aguardava ansiosamente. Tudo estava muito quieto e silencioso - o que não poderia ser diferente, considerando o avançado das horas (3h14m). De repente, assim, do nada, comecei a ouvir o som de uma música linda e suave, com um pouco mais de atenção percebi que o som vinha de uma flauta e a melodia tocada era “Coração de Estudante” (Milton Nascimento), num primeiro momento fiquei ainda mais desperta tentando imaginar de onde vinha àquela canção e quem poderia estar “flauteando” tão tarde da noite? Logo idealizei a figura de uma mulher. Só poderia ser, já ouvi dizer que as mulheres têm mais problemas em relação à falta de sono do que os homens – quem sabe seja por conta das preocupações do dia-a-dia mais predominante nas mulheres que nos homens, rsrsrs... Bom, verdade ou não, continuei pensando que poderia ser uma mulher até a música terminar e iniciar - a mesma canção (???). Nesse momento percebi que o sono chegava de mansinho e meus últimos pensamentos foram – talvez quem estivesse tocando procurasse maior excelência nos acordes da melodia, mas estava tão linda zzzzzzz... não resisti, entreguei-me completamente a plenitude do sono. O celular toca insistente para eu acordar - não acredito que já amanheceu, tenho a impressão que nem dormir. Mas, para meu espanto percebi que eu estava bem disposta e descansada. Num passe de mágica refiz minha cama, tomei banho e coloquei água no fogo para fazer o café enquanto me “enfeitava” para o trabalho. Lembrei-me da música e também de um lindo sonho, onde apenas meu espírito caminhava lentamente por uma imensa floresta de pinheiros, eu tinha um objetivo específico naquela caminhada, mas não me lembro qual era – que pena, gostaria de saber onde e porque “eu” estava ali. O dia passou rápido e tranqüilo. Concluí todas as minhas atividades previamente programadas e adiantei outras para o dia seguinte. De volta pra casa já no finalzinho da tarde, questionei meus familiares se tinham ouvido o som de flauta na madrugada, ninguém ouviu absolutamente nada. Por volta de 20:30hs fui até o portão atender o entregador de pizza, enquanto conversava com o rapaz, minha nova vizinha que se mudara a apenas três dias se aproximou, trazendo consigo o filho que mais tarde soube tinha apenas 14 anos. Convidei-os a entrar e dei-lhes as boas vindas a minha casa e também ao bairro. A visita foi breve, após algumas trocas de gentilezas ela disse a que veio, explicou que seu filho era altista e que trocava a noite pelo dia, isto é, dormia durante o dia e passava a noite acordado. Antes perambulava pela casa a noite toda, mas depois de ser presenteado com uma flauta, rapidinho aprendeu a tocar, agora passa as noites envolvido nessa atividade. Enfim, minha vizinha queria saber se a música estaria nos incomodando, caso estivesse ela iria providenciar a troca das janelas de sua casa para abafar o som produzido pela flauta. Todos de casa concordamos que o som não era nenhum incomodo, muito pelo contrário, contei a ela meu problema de insônia e a sensação de paz que senti ao ouvir a música. Percebi de imediato alívio em seu rosto. Nós despedimos, cada uma com a certeza de que nos tornaríamos grandes amigas com o passar do tempo - Dito e feito, adoramos nossos vizinhos.